A Carta
Hoje eu acordei pela manhã
Porque um passarinho à minha
janela
Insistia em me despertar.
E logo Marília chamava,
E chamava, e gritava.
E dizia: “Sete horas
Bartolomeu!
Sete horas!! Quer se atrasar?”
E eu nem podia me precipitar
Cruzes!!! Nunca!!!
Sua mãe ía se casar,
Ía se casar neste dia!
Foi tudo muito ligeiro,
Pois você, meu companheiro,
Já estava gerando
E quase ninguém estava sabendo,
Inclusive eu! (...)
Sabe, meu querido,
Tenho a sensação de que hoje o
dia será maior;
O sol se aprontou mais bonito.
E que vista faz!
Olhar para o céu dá um gosto
bom.
Minhas dores, hoje, amanheceram
distantes,
Talvez porque soubessem de que
Após eu acordar, em alguns
instantes,
Saberia sobre você.
Há um mês, enfim, consegui sair
da UTI,
E à noite, ontem, senti uma
forte pontada no coração
Também fisgadas percorrendo a
cabeça e as mãos,
Mas a felicidade de saber que
você chegou
- pelo menos como um embrião -
Renovou o meu espírito.
Cheguei agora a pouco do
casamento
E junto comigo veio uma leve
dormência no peito,
Talvez seja sua ternura se
aproximando,
Nem sei o que está me
esperando,
Mas saiba que já te amo
tanto...
Tanto, tanto, tanto...
Por isso escrevi
E aqui não ousei.
Não ousei meu bisneto
De escrever-lhe palavras
bonitas
Ou de fazê-lo ilário
Como quem queira levar-lhe ao
vento
Mas guarde...
Guarde esta... esta carta
Como que um dia um velho lhe
deixara um Testamento.
4 de setembro de 2013