sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A Carta
Hoje eu acordei pela manhã
Porque um passarinho à minha janela
Insistia em me despertar.
E logo Marília chamava,
E chamava, e gritava.
E dizia: “Sete horas Bartolomeu!
Sete horas!! Quer se atrasar?”
E eu nem podia me precipitar
Cruzes!!! Nunca!!!
Sua mãe ía se casar,
Ía se casar neste dia!
Foi tudo muito ligeiro,
Pois você, meu companheiro,
Já estava gerando
E quase ninguém estava sabendo,
Inclusive eu! (...)
Sabe, meu querido,
Tenho a sensação de que hoje o dia será maior;
O sol se aprontou mais bonito.
E que vista faz!
Olhar para o céu dá um gosto bom.
Minhas dores, hoje, amanheceram distantes,
Talvez porque soubessem de que
Após eu acordar, em alguns instantes,
Saberia sobre você.
Há um mês, enfim, consegui sair da UTI,
E à noite, ontem, senti uma forte pontada no coração
Também fisgadas percorrendo a cabeça e as mãos,
Mas a felicidade de saber que você chegou
- pelo menos como um embrião -
Renovou o meu espírito.
Cheguei agora a pouco do casamento
E junto comigo veio uma leve dormência no peito,
Talvez seja sua ternura se aproximando,
Nem sei o que está me esperando,
Mas saiba que já te amo tanto...
Tanto, tanto, tanto...
Por isso escrevi
E aqui não ousei.
Não ousei meu bisneto
De escrever-lhe palavras bonitas
Ou de fazê-lo ilário
Como quem queira levar-lhe ao vento
Mas guarde...
Guarde esta... esta carta
Como que um dia um velho lhe deixara um Testamento.


4 de setembro de 2013


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